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Apresentação - Mesa Redonda

O Cinema de Animação é uma Arte que tem sido maltratada e esquecida, frequentemente conotada como um mero divertimento para as crianças, raramente temos a oportunidade de acesso às suas obras importantes e significativas.

Nestas condições é perfeitamente compreensível que o Cinema de Animação seja um ilustre desconhecido, mesmo nos meios intelectuais e por incrível que pareça também nos meios cinematográficos.

Porquê tanta falta de informação? Porquê tanta incompreensão?

Por incrível que pareça este desconhecimento deve-se em grande parte ao seu próprio sucesso. O impacto conseguido pela indústria americana e neste caso particular pelos estúdios Disney, um único estúdio que durante décadas ditou os gostos de várias gerações, cristalizando em formas “clássicas” uma ideologia por vezes bastante retrógrada. O império Disney e o seu sucesso junto de um público essencialmente jovem ofuscou todos os outros autores e criadores, impondo uma única maneira de pensar e de fazer. Assim, e à medida que esta visão do mundo, sem conflitos de gerações e muito menos de classes, se ia impondo, todos os outros iam perdendo cada vez mais espaço agravado pela intervenção de outros factores, como as sessões contínuas e a introdução de publicidade que passavam  nas salas de cinema e a consequente eliminação das curtas metragens antes das longas (quem ainda se lembra desses tempos?)

O advento da Televisão poderia ter criado um novo espaço, uma nova janela para outras expressões, mas mais uma vez foi a lógica do mercado que se impôs, agora já não interessa a qualidade mas a quantidade e mesmo o estilo Disney foi obrigado a encontrar alternativas simplificadas para assim poder competir com as produções que nos chegavam das grandes fábricas dos países orientais, o Japão e a Coreia e outros países onde a mão de obra era quase uma escravatura, produzindo com estilos padronizados para assim ser possível rentabilizar mais e mais.

Agora a nova miragem chama-se a era digital, a era cibernética as novas tecnologias e mais uma vez toda a indústria começa a adoptar novos padrões impostos agora pelas limitações tecnológicas que curiosamente agem como um potente motor do desenvolvimento das novas ferramentas.

Mas toda esta lógica é a lógica da indústria e se bem que representa a grande maioria da produção de Cinema de Animação mundial, não representa os seus aspectos mais criativos, originais e interessantes, pelo menos do meu ponto de vista. Ficaram de fora do acesso do grande público autores como Norman McLaren, Len Lye, Alexandre Alexeieff, e tantos outros que apesar de terem uma obra impressionante tanto do ponto de vista estético como cinematográfico nunca viram as suas obras em prime time.

Como é possível alguém gostar de Cinema, de ser um verdadeiramente cinéfilo se só conhecer as novelas mexicanas? Da mesma forma como é possível gostar de animação se só conhecermos os Pokemon, os Goldorak e as Aidis, sem nunca ter visto um filme de um Raoul Servais, de uma Faith Hubley, de um Kawamoto, de uma Lotte Reiniger ou um Frédéric Back? Estes são alguns dos Felinis, dos Fords e dos Korosawas da Animação.

É precisamente a grande dificuldade que os autores originais, os poetas das imagens animadas, tem em encontrar espaços para mostrar as suas obras, por estes espaços estarem invadidos pelos produtos massificados que a opinião pública não os conhece e desconfia deles e mesmo muitos intelectuais não conhecem as obras marcantes do Cinema de Animação Mundial e, pior ainda, nem sequer suspeitam da sua existência e não nutrem nenhuma espécie de curiosidade em saber um pouco mais, em aprofundar este filão que é extremamente rico, diversificado e dinâmico, seguindo muitas vezes de perto todas as outras correntes artísticas, políticas e filosóficas: da pintura, da fotografia, do teatro, da música, da literatura e evidentemente do Cinema desenvolvendo muitas vezes linguagens muito próprias e originais.

Mas como ter acesso a estas obras? Nas Cinematecas, dir-me-iam, seria um bom local, mas o director da nossa única cinemateca é um dos tais cinéfilos que ignora a Animação que não tem qualquer curiosidade em descobrir os tesouros escondidos da animação. Que eu saiba há apenas uma cinemateca especializada em cinema de Animação em todo o mundo. É a cinemateca Québécoise em Montréal.  Felizmente também que começam a surgir alguns indícios de que algo está a mudar. É notória a proliferação de festivais de cinema de animação e é também notório o interesse crescente do público por este tipo de cinema. É curioso verificar a aderência geral do público mesmo a filmes de animação considerados mais difíceis quando tem acesso a eles. É muito gratificante assistir a uma sessão de curtas metragens numa sala de 800 lugares a abarrotar de gente, como é a mostra de curtas metragens portuguesas que anualmente passam no Forum Lisboa e onde as curtas metragens de animação tem tido uma aceitação extremamente boa. É bom verificar a existência de alguns nichos de mercado a surgirem aqui e ali, hoje é a Agência da Curta metragem que apresenta um pacote de curtas montado com a duração de uma longa o que lhe permite uma autonomia e uma voz próprias, amanhã é um programa na RTP2, o Onda Curta, que dedica regularmente alguma atenção à Animação, amanhã serão sessões compostas por várias animação que farão o prato forte do cartaz, como foi o caso do programa Wallace and Gromit.. É também muito bom saber que brevemente o Pierre Hébert virá fazer uma das suas célebres performances de Música e Cinema no Museu de Serralves, conquistando assim um estatuto dificilmente imaginado pela indústria e incompatível com as produções de televisão. Pouco a pouco a Animação vai fazendo ouvir a sua voz e vai ganhando a sua credibilidade, e a sua dignidade

Eu estou convencido que uma apresentação alargada de filmes de animação com preocupações poéticas e estéticas diferentes constituiriam uma agradável surpresa para muitos intelectuais e mesmo para alguns cinéfilos mais distraídos.

Cinema de Animação nas Escolas (procurar texto na revista sobre educação)

Animação como intervenção social: Paulina na Sé. Fernando Saraiva no CLIA: ligação lar da 3ª idade com putos

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